Diamantina, a cidade musical, que este ano comemora 20 anos como Patrimônio da Humanidade, com seus Concertos, Serestas e Vesperatas.
Uma cidade que exala a musicalidade em seu DNA, dentre seus bêcos, ruas e ladeiras, em meio aos encantadores vales no Jequitinhonha que servem de inspiração para tantas criatividades.
É neste contexto que Diamantina tem o prazer de convidar a todos os seus admiradores para juntos prestigiarmos de mais uma preciosidade, dois “diamantes” estão preparados para serem ovacionados: O Concerto JK Jazz Band e o Concerto Jobiniando.
Nos dias 09 e 10 de Agosto, programe-se e venha cantar e se encantar conosco.
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O musical “Jobiniando” foi idealizado pelo escritor Wander Conceição, com o objetivo de realçar as raízes culturais mineiras que contribuíram para o surgimento da bossa nova e de evidenciar a passagem de João Gilberto pela cidade de Diamantina, em meados da década de 1950, período em que o músico baiano formatou o ritmo do novo gênero musical que revigorou a música popular brasileira. A cultura mineira exerceu enorme contribuição para o processo das renovações harmônico-melódica e poética que resultou na modernização da música nacional. Coroando esse movimento, iniciado desde a década anterior, Antônio Carlos Jobim foi o grande expoente renovador das harmonias e melodias da música popular brasileira. Vinícius de Moraes foi o expoente renovador da linguagem.
Por fim, o musical se propõe a ressaltar a importância da opção pelo estado democrático como prerrogativa de governo feita pelo presidente Juscelino Kubitschek, nascido em Diamantina. O regime democrático facilitou o avanço das artes e da cultura no Brasil, contexto em que a bossa nova se consagrou como o maior movimento musical brasileiro reconhecido mundialmente. O repertório reúne músicas do maestro soberano Antônio Carlos Jobim. A pesquisa histórica, como também a direção, condução e interpretação do musical “Jobiniando” estão a cargo do pesquisador e músico Wander Conceição. Adaptações, harmonização e orquestração competem a Reginaldo Warlem da Cruz, músico da Banda de Música do 3º BPMMG e regente da Orquestra Sinfônica Jovem de Diamantina.
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*Reprodução do conteúdo desta página, somente mediante autorização expressa da organização do evento JK Jazz Band & Concerto Jobiniando.
Confira!
BOSSA NOVA
A bossa nova destacou-se como o mais expressivo movimento musical renovador da música popular brasileira. Na segunda metade da década de 1950, exatamente no momento em que a palavra de ordem no Brasil era a luta contra o subdesenvolvimento, a bossa nova surgiu, refazendo a batida do samba e modificando a harmonia e a poesia das canções.
Para a professora, filósofa e ensaísta, Marilena Chauí, a bossa nova foi um movimento que proporcionou a grande oportunidade de internacionalização para a música brasileira e o seu surgimento para o mercado de massa, isto é: exprimiu na arte musical o desenvolvimento da era JK.
O processo de ruptura, com os paradigmas que delineavam as canções populares do país até então, realizado na harmonização da melodia, na poesia e no ritmo, consolidou-se a partir das inovações praticadas por três personagens, fundamentais para o estabelecimento do que viria a ser a bossa nova: Tom Jobim, Vinícius de Moraes e João Gilberto.
Vinícius necessitava de um compositor para escrever-lhe a música para sua peça “Orfeu da Conceição”. O poeta havia convertido a lenda de “Orfeu”, uma tragédia grega, em uma peça teatral, representando uma tragédia carioca. Orfeu, um semideus grego, virou um sambista negro da favela e foi inserido na agitação do carnaval do Rio de Janeiro. Diplomata, recém chegado de Paris, Vinícius trouxera o livreto, com versos adaptados à sua versão, todo pronto. Faltavam as canções, nas quais o poeta colocaria as letras. Foi apresentado ao músico Tom Jobim, por Lúcio Rangel, no bar Villarino no Rio de Janeiro, em 1956. Esse momento marcou o encontro da música e da poesia renovadas, que passaram a encaminhar-se a par e passo com a perspectiva de modernidade, que tanto se perseguia na época.
O crítico musical Jota de Moraes considerou Tom Jobim um mestre que conseguiu, desde o início da carreira, aliar, de maneira intuitiva, dois mundos, até certo ponto, aparentemente antagônicos: o da música popular com o da música erudita. Ainda de conformidade com o crítico musical, de Bach, Tom Jobim assimilou o valor de desenhar com clareza um recorte melódico e o entrelaçar simultâneo de várias melodias. De Chopin, ele incorporou o gosto pelas melodias inesperadas, ondulantes e altamente expressivas. De Villa-Lobos, ele herdou a capacidade exuberante de tingir com cores brasileiras, fortemente rítmicas, trechos inteiros de suas músicas. E de Debussy, tomou de empréstimo certos elementos de uma harmonia altamente reticente, na qual os acordes dissonantes deixam uma impressão de continuidade no ar. Jobim soube colocar a serviço de sua música, de raiz popular, todos esses elementos clássicos, pertencentes a outra esfera, que revitalizaram, de forma consistente, as melodias das canções.
Quanto à renovação da escrita, há que considerar que a poesia moderna já era utilizada nas letras das canções populares, como o verso livre, tão bem aproveitado pelo compositor Noel Rosa. As composições começaram a receber alguns recursos da poesia concreta, com o objetivo de se valorizar a sonoridade da palavra como elemento musical. Na vanguarda desse movimento se destacou o poeta Vinícius de Moraes. O grande achado, naquele momento histórico, para complementar o processo de renovação da escrita, foi a introdução de elementos da poesia culta nas letras das músicas de massa.
Vinícius de Moraes foi considerado pelo jornalista e crítico musical, Tárik de Souza, o poeta que conseguiu demolir o muro que separava a poesia culta da música popular brasileira, transformando a barreira numa via de mão dupla: tanto levou para o mercado de massa essa poesia culta, quanto possibilitou a eruditos chegarem ao assobio de rua.
A partir do ano de 1957, a música e a poesia, renovadas, receberam a adesão de um ritmo totalmente novo e ousado, com a volta de João Gilberto de Diamantina para o Rio de Janeiro e o seu reencontro com Tom Jobim e Vinícius de Moraes. O enlace desses três elementos renovados foi coroado com a gravação do disco “Canção do Amor Demais”, em abril de 1958, cujas músicas foram interpretadas pela cantora Elizeth Cardoso. Duas faixas desse disco, Chega de Saudade e Outra Vez, músicas de Tom Jobim e letras de Vinícius de Moraes, assinalaram o início da bossa nova, pois receberam o acompanhamento do violão de João Gilberto, talhado por uma marcação rítmica renovada, diferente da forma institucionalizada do samba, como se conhecia até aquele momento.
Ainda no ano de 1958, durante o mês de julho, João Gilberto gravaria, com sua própria voz e acompanhamento, um disco 78 rotações de duas faixas, com as músicas Chega de Saudade e o samba Bim-Bom, este de sua autoria. A mesma música gravada inicialmente por Elizeth, interpretada agora com a ruptura que João Gilberto desenvolvera também na maneira de cantar, destacava, com maior nitidez, a sutileza e a pulsação sincopada do violão. Ao ganhar as emissoras, o disco deixaria perplexos os adeptos da modernidade. A partir daquele momento, a bossa nova começou expandir-se no Brasil.
A modificação que João Gilberto introduziu no acompanhamento das músicas populares foi a utilização sucessiva de síncopes para produzir o ritmo. A marcação do ritmo passou a não se apoiar no tempo de repouso naturalmente esperado, desvinculando-se da forma de sustentação tradicional em que o acompanhamento se apoiava habitualmente. Em linhas gerais, pode-se dizer que o acorde passou a ser atacado em um momento de transição entre os tempos basilares da pulsação do compasso musical, evitando-se sua emissão no tempo basilar seguinte, para ser atacado novamente num momento de transição. De acordo com o jornalista e crítico musical Zuza Homem de Melo, esse artifício provoca uma tensão, uma sensação de que é preciso seguir adiante. Ao se realçar o momento de transição cria-se o impulso rítmico, a leveza, o balanço, o molho, o swing. Quanto mais tensão, mais swing e mais leveza.
Da mesma forma que Tom Jobim, João Gilberto, além de fazer a opção pelos acordes dissonantes, também desenvolveu a habilidade de empregar o processo de inversão da posição fundamental dos acordes básicos, recurso que ajuda o acompanhamento sobressair, ao gerar uma sensação de dissonância naquilo que era consoante na essência. Na tradição do acompanhamento popular, sempre se utilizavam os acordes em sua configuração básica, ou seja, colocando-se em evidência a nota fundamental, a mais grave. A partir da bossa nova, cultivou-se a liberdade de não se tocar a nota fundamental do acorde, eliminando-a e deixando-a subentendida. Esse recurso gera, ao mesmo tempo, uma impressão de certa instabilidade, mas também de leveza, como se a base harmônica estivesse pairando no ar e não repousando.
Com efeito, a bossa nova foi um movimento musical brasileiro que ganhou o mundo, porque primou pela sofisticação, pelo refinamento da harmonia e da instrumentação, pela utilização da dissonância melódica, como também, primou pelo requinte do ritmo. Empenhou-se ainda na valorização dos conteúdos sociais na composição das letras, ao mesmo tempo em que privilegiou a poesia moderna e culta.
Enfim, a bossa nova explodiu no Brasil ao final da década de 1950, levada a efeito pela insatisfação de diversos compositores com a produção musical construída de forma convencional, atraídos, naquele momento, pela modernidade que se apresentava a um país que, definitivamente, havia feito a opção pelo afastamento de sua condição de nação subdesenvolvida.
Wander Conceição
Pesquisador / Escritor / Músico
Pacote Musical em Diamantina
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